Estamos errando, mas podemos começar a acertar

É uma grande tristeza, acompanhada de um misto de decepção e vergonha, usar este espaço – destinado a tratar de Educação, um tema tão nobre e engrandecedor para a sociedade –, para falar de violência, de dor, de luto.

Infelizmente, é necessário abordar, novamente, um problema que vem se tornando recorrente, no Brasil. Antes, olhávamos atônitos os ataques ocorridos em instituições de ensino dos Estados Unidos. Hoje, assistimos com pesar aos casos ocorridos nas escolas brasileiras também.

No dia 27 de março, uma triste coincidência demonstrou o quanto estamos errando, enquanto sociedade, na formação das nossas crianças e adolescentes. Pela manhã, por volta das 7 horas, um adolescente de 13 anos atacou a golpes de faca professores e estudantes da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Uma professora de 71 anos acabou falecendo, e outras cinco pessoas ficaram feridas (três professoras e dois estudantes). O agressor foi apreendido pela polícia. Já à tarde, na The Covenant School, uma escola cristã particular para estudantes de 3 a 11 anos, que fica em Nashville, no Tennessee (sul dos Estados Unidos), três crianças de 9 anos de idade e três funcionários foram assassinados a tiros dentro da instituição de ensino. O assassino, de 28 anos, teria sido aluno daquela escola, e foi morto em confronto com a polícia local.

Surpresa, fatalidade?
Não podemos dizer que fomos surpreendidos por tais “fatalidades”. Assim como uma doença grave não aparece de uma hora para a outra, casos de violência dentro das escolas, ou na sociedade em geral, também não surgem do nada. É uma série de erros, de descasos com a infância e a juventude, falta de preocupação e seriedade com a educação, ausência de empatia e atenção com o próximo. Soma-se a tudo isso a exacerbação da intolerância e dos discursos de ódio disseminados cada vez mais sem pudor através de meios de comunicação irresponsáveis e mídias sociais sem a devida regulamentação. Nesse caso, sequer conseguimos apontar o que é causa e o que é consequência. É a velha história de “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”.

A pandemia de Covid-19 e a saúde mental das pessoas
Levantamentos feitos junto a professores por entidades não governamentais apontam que foi identificado um aumento da violência nas escolas no retorno das aulas presenciais, após o período de aulas remotas devido à pandemia de Covid-19. Outros estudos também indicam o aumento de casos de ansiedade, depressão, automutilação e desinteresse pelos estudos e demais atividades escolares após a pandemia, demonstrando a necessidade de se cuidar da saúde mental de estudantes e profissionais das escolas e prestar apoio às famílias.

Pelo menos no caso da escola em São Paulo, há indícios que o adolescente que cometeu os atos de violência estava passando por problemas sérios. Na escola anterior onde estava matriculado, funcionários relataram que o jovem apresentava comportamentos suspeitos nas redes sociais, já demonstrando propensão à violência. Parece que os pais do agressor foram informados que providências deveriam ser tomadas. Já na atual escola, onde ocorreram os ataques, há relatos que o agressor seria vítima de bullying, fez agressões de cunho racista e se envolveu em uma briga com outro adolescente.

Caminhos para a construção do caráter
Vivemos tempos difíceis para a educação, os quais requerem trabalho e ações assertivas, mas temos caminhos a seguir para sair desse pesadelo. Lembrando sempre que essa tarefa é realizada a quatro mãos, com a escola e a família trabalhando juntas, uma apoiando a outra, agindo em consonância para reforçar boas práticas de convivência.

A Educação Socioemocional é uma das soluções para combater e prevenir os problemas de violência nas escolas e promover a saúde mental de todos. É um processo através do qual os estudantes aprendem, dentro do currículo escolar, a refletir e, efetivamente, aplicar conhecimentos, atitudes e competências necessários ao longo da vida. Nesse sentido, a Educação Socioemocional auxilia o estudante a identificar suas emoções e a lidar com elas e com suas frustrações e, também, promove a tomada de atitudes responsáveis e conscientes, estimulando o diálogo construtivo com o próximo, com os adultos, e a busca de ajuda profissional e especializada quando necessária.

Preconizada pela Base Nacional Comum Curricular ((BNCC) e com implantação obrigatória em todas as escolas do Brasil desde o ano de 2020, a Educação Socioemocional, por intermédio de métodos, práticas e atividades bem definidas e organizadas, introduzidas de maneira transdisciplinar nos currículos escolares, promove a melhora do clima escolar e fornece ferramentas para os profissionais da educação e familiares atuarem na prevenção da saúde mental dos jovens e crianças.

Além disso, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais leva os estudantes a agirem imbuídos de valores como a empatia, o respeito, a responsabilidade, a solidariedade, a generosidade e a gentileza, tendo atitudes e comportamentos que buscam a realização do bem comum, em prol da coletividade.

Nessa construção do caráter, não há espaço para o ódio aos diferentes, para a intolerância, para a violência e para o bullying. É o caminho para começarmos a acertar na formação das crianças e dos adolescentes. Basta vontade e comprometimento por parte de toda a sociedade.