Como estimular a busca pela aprendizagem e não pela nota?

Por Rita Rangel*

Estudar para tirar uma boa nota, passar de ano, prestar vestibular e, por fim, se formar. Esta é a caminhada que muitos estudantes vivenciam durante os anos na educação básica. Mas, até onde as avaliações tradicionais das escolas evidenciam o quanto o estudante aprendeu? Ou mesmo, como transformar o processo de estudo em aprendizagem e não somente em nota?

Apesar de os processos avaliativos serem parte importante da trajetória educacional, atualmente, esse fator tem ganhado um novo papel, passando de um instrumento meramente classificatório, para um pilar direcionador e orientador da aprendizagem.

Quando a avaliação é embasada apenas em tirar notas, os resultados referem-se à classificação e rotulação, apontando dados somente de uma parte do processo, o que gera expectativa de sucesso ou fracasso, limitando a certo ou errado, ao bom e ao mau estudante. Além disso, pode reduzir o processo de avaliação a uma prova ou exame, desconsiderando as demais fases da trajetória de aprendizagem.

Diante das demandas atuais, de um mundo não linear, ansioso, frágil e incompreensível, a aprendizagem precisa acompanhar essas necessidades e promover o desenvolvimento de habilidades para responder a essas demandas. Diante disso, o modelo de avaliação exclusivamente baseado em notas torna-se old school.

Para uma educação atenta às demandas atuais, há uma necessidade emergencial em valorizar a experiência do estudante na construção do conhecimento e no seu desenvolvimento como indivíduo, assegurando aprendizados para formar um cidadão que saiba “aprender a aprender”,
tomar decisões assertivas e trabalhar de maneira colaborativa.

Se temos a expectativa de que os estudantes desenvolvam habilidades complexas nas mais diversas áreas e disciplinas, tais como resolver problemas pensando em grupo, argumentar e contra-argumentar com criticidade e pesquisar de modo profundo e criterioso, há necessidade de validar esse desenvolvimento. Nessa perspectiva, a aprendizagem deve acontecer por meio de uma metodologia que proporcione sentido, que possa ser vivenciada na prática para que o estudante seja entendido como o centro do processo de aprendizagem. Nessa lógica, as aprendizagens que acontecem dentro desse processo são avaliadas por meio das suas evidências e não apenas pela quantidade de acertos em uma prova ou teste.

E como a avaliação deve ser feita?
A resposta é simples: por meio das evidências de aprendizagem e uma mescla nos processos avaliativos (avaliação somativa e formativa).

A avaliação somativa tem como objetivo avaliar de maneira geral o grau em que os resultados mais amplos têm sido alcançados ao longo e no final da etapa, incluindo a síntese a respeito das aprendizagens, focando na hierarquização de excelências. Sua função é classificar o estudante ao final do percurso, segundo níveis de aproveitamento e o rendimento alcançado, tendo como parâmetro os objetivos previstos.

Já a avaliação formativa prioriza a promoção da aprendizagem em processo, referindo-se a um conjunto de práticas inter-relacionadas que, de forma comprovável, aprimoraram a aprendizagem dos estudantes. Ela é desenhada para informar a aprendizagem durante o processo, para que as evidências coletadas sejam realmente utilizadas para adaptar o ensino às necessidades dos estudantes, que são ativamente envolvidos, recebendo e emitindo feedbacks sobre si e sobre os colegas.

Dessa forma, a lógica nesse processo torna-se a regulação das aprendizagens, e um dos instrumentos que podem ser utilizados para avaliar as habilidades de alta complexidade é associar rubricas de avaliação a outros instrumentos de avaliação diferenciados, uma vez que a rubrica promove benefícios para todo o processo avaliativo. As rubricas também constituem ferramentas de apoio ao aprendizado do estudante e ao seu desenvolvimento integral, pois conduzem a práticas de aprendizagem mais adequadas ao longo de todo o percurso. Para o professor, elas promovem clareza quanto à tarefa e ao objetivo de aprendizagem, ajudam a focar no critério e não na tarefa e buscam referência no resultado da aprendizagem, permitindo tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados esperados.

Essa perspectiva permite ao estudante refletir sobre onde está, traçar aonde quer chegar e saber como é o próximo nível de exigência. Esse cenário o desafia a crescer, a trabalhar com autoavaliação e oferece visibilidade às habilidades desenvolvidas, tanto cognitivas, quanto socioemocionais. E, para a família, promove a transparência do processo avaliativo, já que os pais saberão onde o filho está e aonde deve chegar, bem como quais critérios foram utilizados e quais habilidades desenvolvidas. Com essa proposta, a escola cumpre seu papel com excelência na formação de qualidade e os estudantes são mais bem preparados para os desafios da vida, garantindo aprendizagem e sucesso em sua trajetória.

*Rita Rangel é Gestora Educacional Brasil da rede de colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.