Com a chegada das férias escolares, famílias de todo o país procuram maneiras de promover descanso, diversão e atividades que estimulem o crescimento emocional e cognitivo das crianças e dos jovens. Especialistas das áreas pedagógica, literária e socioemocional afirmam que este período deve ser conduzido com intencionalidade, combinando convivência familiar, momentos livres e estímulos adequados.
A coordenadora pedagógica do Colégio Rio Branco, Simone Costa, reforça que o recesso escolar é um momento essencial para ressignificar o uso das tecnologias. “Temos observado que muitas crianças chegam ao final do ano com níveis elevados de irritação, ansiedade, dificuldade de concentração e menor tolerância à frustração, sinais diretamente associados ao uso excessivo das telas. As férias são o momento ideal não apenas para reduzir esse impacto, mas para introduzir novas rotinas, reaproximar as famílias e apresentar experiências que tragam equilíbrio emocional e desenvolvimento saudável”, afirma a coordenadora.
Nesse contexto, Simone destaca que a qualidade das interações familiares torna-se ainda mais determinante durante o recesso escolar. Para a pedagoga, pequenas atitudes, como cozinhar em conjunto, caminhar, construir algo ou simplesmente conversar, têm o poder de transformar a maneira como as crianças vivenciam as férias, tornando o período mais leve, afetivo e emocionalmente seguro. Segundo ela, dedicar tempo genuíno aos filhos cria um ambiente de confiança e proximidade, fundamental para o bem-estar. “É na presença real e disponível dos adultos que os vínculos se fortalecem e as memórias afetivas ganham profundidade”, diz Simone.
Leitura nas férias: hábito saudável, prazeroso e essencial
A leitura é uma das práticas mais recomendadas para o período, pois combina entretenimento com desenvolvimento cognitivo. Para a coordenadora de Literatura e Informativos da SOMOS Literatura, Laura Vecchiolli, esse é um momento especialmente propício para fortalecer o gosto pela leitura. “Nas férias, o tempo corre de outra forma, sem a pressão dos horários e das tarefas. Isso permite que a criança ou jovem mergulhe num livro de maneira mais espontânea. A leitura, além de divertida, desperta curiosidade, amplia vocabulário e desenvolve autonomia”, destaca Laura.
Pensando nisso, a coordenadora cita algumas sugestões de obras que podem entreter, inspirar e estimular a imaginação dos jovens leitores durante o recesso escolar: A ilha perdida (Maria José Dupré), Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll) e As Férias da Bruxa Onilda (Roser Capdevila).
Com mais disponibilidade e menos exigências escolares, o contato com histórias torna-se também uma ferramenta poderosa para os estudantes mais velhos, sobretudo aqueles do Ensino Fundamental – Anos Finais e Médio, que vivem uma fase de consolidação de competências cognitivas e socioemocionais. É nesse ponto que a leitura ganha um papel ainda mais significativo, como destaca a autora de língua portuguesa do Fibonacci Sistema de Ensino, Margarete Xavier. “Quando o jovem lê com regularidade, passa a compreender nuances do mundo, desenvolve pensamento crítico, melhora a escrita e ganha repertório cultural, uma prática que o acompanha para toda a vida”, diz Margarete.
Segundo a especialista, cultivar essa relação durante as férias ajuda os jovens a desenvolverem autonomia e constância de leitura, dois elementos essenciais para o avanço acadêmico e para a formação de leitores. Margarete reforça que, “ao escolher obras adequadas ao nível de maturidade e interesse de cada estudante, a leitura deixa de ser vista como obrigação e passa a integrar o lazer de forma prazerosa”. Com esse propósito, a escritora indica títulos que, além de entreter, ampliam o repertório cultural e estimulam reflexões importantes: O Alienista (1882), de Machado de Assis; O Primo Basílio (1878), de Eça de Queiroz; e 1984 (1949), de George Orwell.
Criatividade e vida prática: viver as férias com intencionalidade
Segundo a diretora pedagógica da FourC Learning, Juliana Storniolo, as férias devem abrir espaço para que crianças e adolescentes explorem interesses pessoais e autonomia. Atividades criativas como inventar histórias, criar brinquedos improvisados, pintar com materiais variados, explorar fotografia e realizar pequenos projetos artísticos, ajudam a desacelerar a mente e estimulam a imaginação, funcionando como um contraponto saudável ao ritmo escolar.
Cozinhar em família, resgatar receitas tradicionais, cuidar de plantas, explorar o quintal ou participar de tarefas adequadas à idade fortalecem vínculos e ensinam responsabilidade. Para a especialista, envolver as crianças no planejamento de viagens ou passeios, mesmo os mais simples, amplia o repertório cultural e desperta curiosidade sobre o mundo.
Sessões de cinema em casa, encontros com amigos e brincadeiras livres completam a rotina, desde que equilibradas com momentos de descanso. “Férias bem vividas são aquelas que permitem desacelerar, criar memórias e favorecer descobertas. Ao combinar leitura, brincadeira, vida prática e convivência familiar, o período de recesso transforma-se num momento privilegiado de desenvolvimento”, comenta Juliana.
