Garantir um desenvolvimento integral para as crianças envolve não apenas o cuidado e a proteção dos pais, mas também a educação de qualidade por parte das escolas nos primeiros anos de vida. Com isso, a alfabetização bilíngue surge como um diferencial para o futuro das crianças. Além de promover o domínio de mais de um idioma, esse modelo de ensino fortalece as habilidades cognitivas, sociais e culturais, preparando os alunos para uma cidadania global. Com a crescente valorização do bilinguismo, muitas famílias e escolas estão adotando esse formato de ensino desde os primeiros anos da educação infantil.
Além disso, recentemente o Governo Federal criou o Programa Leitura e Escrita na Educação Infantil (Pro-LEEI) para implementar e promover a formação continuada de profissionais da Educação Infantil com o intuito de fortalecer o planejamento e a implementação de práticas pedagógicas capazes de desenvolver a linguagem oral, a leitura e a escrita. E entre os princípios orientadores está o reconhecimento das especificidades e das singularidades da Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica.
Considerando esse cenário, a coordenadora de Línguas da Beacon School, Daisy Gava, explica como a alfabetização bilíngue beneficia o desenvolvimento cognitivo e social das crianças. “Estudos apontam que crianças bilíngues desenvolvem maior flexibilidade cognitiva, melhor memória de trabalho e habilidades mais desenvolvidas para a resolução de problemas”, diz Daisy.
Além disso, ela destaca que o contato com duas línguas favorece o desenvolvimento da consciência metalinguística, permitindo que as crianças compreendam melhor as estruturas da linguagem e que reflitam sobre o processo de comunicação verbal. “Há evidências também de que o bilinguismo promove a empatia e a adaptabilidade cultural, pois crianças bilíngues tendem a ser mais abertas a perspectivas diversas”, afirma a coordenadora de Línguas da Beacon School.
A especialista comenta ainda que a primeira infância (0 a 6 anos) é o período mais indicado para a alfabetização bilíngue, pois o cérebro é mais plástico e receptivo a novos sistemas linguísticos. “Durante essa fase, as crianças conseguem aprender sons e estruturas linguísticas de forma mais intuitiva. As vantagens do bilinguismo precoce incluem uma melhor pronúncia e percepção dos sons; maior propensão a aprendizagem de outras línguas no futuro; capacidade de alternância entre tarefas de modo mais fluido; e benefícios neurológicos a longo prazo, como uma maior reserva cognitiva na terceira idade”, acrescenta Daysi.
No entanto, durante esse processo, alguns desafios podem surgir ao longo do caminho, gerando interferências no aprendizado, como desequilíbrio na proficiência dos idiomas e falta de materiais apropriados. Por isso, a coordenadora pontua algumas estratégias que podem ser úteis.
“Para minimizar esses desafios, é importante apoiar o desenvolvimento da oralidade antes da alfabetização, permitindo que a criança adquira um vocabulário robusto na segunda língua antes da instrução formal na escrita. Além disso, é necessária a utilização de materiais adequados, como livros e atividades pensadas para o ensino bilíngue, com oportunidades para os alunos refletirem sobre diferenças e semelhanças entre as línguas e usar essas comparações para construir pontes entre as línguas”, explica a especialista.
Outro ponto importante é que esse processo não se resuma apenas ao ensino na escola, mas também seja incentivado em casa, com a participação dos pais. As famílias desempenham um papel essencial no fortalecimento do desenvolvimento da linguagem, seja em uma ou mais línguas, criando oportunidades lúdicas e significativas para a criança explorar a comunicação.
Pensando nisso, a coordenadora indica algumas atividades que podem ser feitas em casa com os pais para ajudar nesse processo. “Brincadeiras com a língua, leitura compartilhada e conversas sobre histórias estimulam a consciência linguística, enquanto a valorização e o uso natural dos diferentes idiomas da família promovem um bilinguismo equilibrado. Além disso, momentos específicos de interação na segunda língua, como jogos, músicas e desafios, tornam o aprendizado mais envolvente”, conclui a coordenadora de Línguas da Beacon School, Daysi Gava.